Autor(es): Nathalia Watkins.
Veja - 09/09/2013
Do remédio feito com veneno de escorpião-azul, que
serve para todo tipo de câncer mas não cura nenhum, aos abortos em série, a
saúde pública em Cuba é uma tragédia.
O escorpião-azul (em espanhol, alacran) é um animal
peçonhento só encontrado em Cuba. Desde 1995, cientistas da ilha estudam o seu
veneno e garantem que é eficaz no tratamento de vários tipos de câncer. A
partir dele, fabricam e comercializam os remédios Escozul e Vidatox. Outra
espécie endêmica na ilha é a medicina avessa às evidências. Submeter os estudos
a uma publicação científica é considerado traição à pátria comunista, submissão
ao imperialismo americano. Não há nenhuma comprovação de que o veneno funciona.
No Pubmed, a maior base de dados científica sobre saúde no mundo, não há um
registro sequer sobre o tal remédio. Sua suposta eficácia é um dos muitos mitos
sobre a medicina cubana criados e perpetuados pelos irmãos ditadores Fidel e
Raúl Castro para enganar governos incautos como o do Brasil, que pretende
contratar 4000 médicos cubanos até o fim do ano (os primeiros 400 chegaram há
duas semanas).
A mentira — e não apenas na medicina — é a principal
política de estado na ilha dos irmãos Castro. A atual epidemia de cólera, por
exemplo, que as autoridades não conseguem mais esconder, é controlada com um
remédio homeopático. "Dar cinco
gotas via oral de uma droga homeopática sem eficácia comprovada em um país onde
não há tratamento adequado da água e onde a falta de higiene é regra parece uma
piada de mau gosto", diz o médico
cubano Eloy González, exilado nos
Estados Unidos. Para se ter uma ideia de como Cuba está atrasada, a cólera foi
erradicada no século XIX em vários países com o saneamento básico. Propagandear
a obsoleta medicina cubana como avançada e pioneira é indispensável para a
ditadura, que depende da exportação de mão de obra do setor de saúde para se
sustentar. Os missionários de jaleco são atualmente a principal fonte de
divisas do regime. Em dezesseis escolas de medicina, Cuba formou neste ano mais
de 10 000 doutores e outros 20 000 profissionais de outras carreiras de saúde,
como enfermagem e nutrição. Seria uma notícia boa em 1959, quando a Faculdade
de Medicina de Havana era uma das dez melhores do mundo. Hoje o curso é uma
vergonha e está em 68° lugar no ranking de qualidade da América Latina. Com as
missões no exterior, pouquíssimos médicos ficam na ilha, o que levou ao
fechamento de 54 hospitais nos últimos três anos. "Antes era preciso levar
lençóis, lâmpadas, comida e seringas para o hospital para ser atendido. Daqui a
pouco será preciso levar também o médico e a enfermeira", diz por telefone
um morador de Havana, que preferiu não ser identificado. Não é incomum ser
atendido por um jamaicano ou um estudante chinês, que falam o espanhol com
dificuldade.
O regime cubano esconde a decadência do seu sistema
de saúde por trás de um único indicador: a baixa taxa de mortalidade infantil.
Trata-se, sem dúvida, do produto do esforço governamental — alcançado por meios
antiéticos, para não dizer criminosos. Cuba pune os médicos que dão atestado de
óbito a bebês com menos de 1 ano de vida. Testemunhei certa vez um patologista
recusando-se a alterar a idade de dois bebês mortos, o que faria com que eles
não entrassem na taxa de mortalidade infantil. Ele foi recriminado pelo diretor
do hospital, que sofria forte pressão do Partido Comunista para manter a
estatística em níveis baixos", diz González. Ao menor sinal de
anormalidade no feto, as mulheres são submetidas a um aborto. O grande número
desse tipo de operação reflete-se na elevada taxa de mortalidade materna, que
também é uma conseqüência da falta de condições nos partos. Até oito semanas de
gestação, o aborto é feito numa simples consulta médica, sem anestesia, com um
aspirador. "O procedimento é
traumático e feito sem os devidos cuidados", diz o clínico geral Pedro
Riera.
Para evitarem as filas nos hospitais, é comum os
pacientes darem uma caixinha ao médico. Vinte dólares é um bom agrado, mas um
filme em DVD também é bem-vindo. Os doutores não ganham mais do que 40 dólares
por mês e muitos estão abandonando a profissão. Na falta de remédios, receitam
placebos feitos por eles próprios, na esperança de que os pacientes melhorem
apenas pelo fator psicológico de acreditar que foram medicados. "Não há
diagnósticos precisos nem medicamentos adequados, só dipirona", diz a
advogada Laritza Diversent, de Havana. Ela levou seu filho de 14 anos ao
hospital da cidade depois que ele cortou o pé durante uma partida de futebol.
Voltou para casa sem a sutura necessária. "Não
havia material para dar pontos, e ele ficou meses com o corte aberto e
sangrando", diz Laritza.
Como tudo se reutiliza e as condições de
esterilização estão longe das ideais, muitos pacientes pegam doenças de outros,
como hepatite C, aids e sífilis. Em Cuba, câncer e aids ainda são tratados como
tabu. A palavra câncer, aliás, não é utilizada. Na cartilha da medicina
comunista, os tumores são chamados de "inflamação"
ou "aumento" de certo
órgão, para não assustar os pacientes. No passado, os soropositivos eram mantidos
em prisões, isolados do resto da sociedade. O enclausuramento só foi abolido,
por falta de recursos financeiros, nos anos 90, quando o país ficou sem ajuda
da União Soviética. Ainda hoje, algumas doenças psiquiátricas são atribuídas à
falta de ideologia comunista. A medicina de Cuba é cheia de exemplos a não ser
seguidos — muito menos importados.
Com reportagem de Tâmara Fisch
No hay comentarios:
Publicar un comentario